Sentimentos e o futebol

Futebol
Um jogo fascinante onde a lógica, às vezes se inverte. O esporte mais popular do mundo serve para refletirmos sobre a vida, emoções e sentimentos. Uma partida de futebol é mais que um simples jogo, são 22 pessoas tentando mostrar que a arte existe, imaginação, sonho e desejo podem se concretizar.

Milhares de pessoas unem se em torno de um time, diferentes ficam iguais. Todos têm a solução para o time, cada um se sente um treinador, pobre treinador. Os jogadores ou são tudo, ou nada, o céu e o inferno encontram-se em uma linha tênue, onde a vitória e a derrota podem ser definidas em um chute, um drible, um descontrole, uma malandragem, ou em um simples apito. A terapia do povo é torcer, xingar a mãe do arbitro é um dos melhores remédios para o estresse.

Quem quando criança não sonhou em ser jogador, virar um ídolo, entrar em um estádio lotado e fazer o gol do título. Em nosso país esse sonho ainda é mais frequente. O futebol é ainda uma importante forma de inclusão social, onde a vida de muitos pode mudar desde que se tenha qualidade e sorte.

Um esporte onde jogadores tornam se mitos. Torcedores vão do êxtase a frustração em 90 minutos, tudo isso gira em torno de uma bola e 22 jogadores que decidem a guerra civilizada dos tempos modernos, onde cada jogo é uma batalha, onde a lógica, nem sempre prevalece.

O futebol é isso, um pouco de tudo, como a vida, onde cada um quer vencer a sua batalha diária, com muita arte, imaginação e sentimento.

Frederico da Luz

Eleições brasileiras de 2100!

Hoje, um dia agradável de primavera, último domingo de outubro de 2100. Acordo cedo, como de costume. Tomo meu café e me dirijo a minha seção eleitoral. Esse ano haverá segundo turno, tanto para presidente, como governador. Os candidatos mostraram-se muito qualificados e preparados para a função, ambos com pós-doutorado em gestão pública e experiência comprovada na área.

Após refletir e analisar as propostas decidi votar em Augusto para presidente e em Vitória para governador. Seus planos de governo são semelhantes, o foco de ambos é a educação. A candidata a governadora quer qualificar os professores que trabalham nas séries inicias. Estes trabalham a criança, no seu primeiro contato com a sociedade entendo que este profissional, apesar de sua crescente qualificação nos últimos anos, deve ser mais valorizado, pois tem um papel decisivo na formação do cidadão.

Já o candidato Augusto tem um plano interessantíssimo para a educação superior, há uma grande fuga de pesquisadores atualmente. O plano contempla a valorização destes profissionais, incentiva suas pesquisas e proporciona a permanência dessas mentes brilhantes no Brasil.

Nosso País tem uma taxa de alfabetização muito próxima dos 100%, não existem analfabetos praticamente, todos os alunos antes dos 15 anos falam fluentemente duas línguas (espanhol e inglês), sendo que já estudaram 6 meses no exterior no país de sua escolha. A educação de nível superior é reconhecida internacionalmente pela sua qualidade.

Estava tranquilo e consciente de ter feito a melhor escolha, mesmo sabendo que os candidatos que concorriam com os que eu escolhi também eram bem preparados e tinham propostas interessantes, mas não com o foco em educação que para mim é o cerne da questão e causa principal de todos os problemas do País.

A taxa de violência vinha em queda e a saúde já era referência. Na verdade nosso país era o mais destacado no cenário mundial, estava faltando apenas a cereja no bolo, o ajuste fino na questão educacional. No meu entendimento, era apenas qualificar ainda mais os professores das séries iniciais e evitar a saída dos cientistas e pesquisadores para o exterior, pois no geral o Brasil estava muito bem, temos um dos melhores IDH do mundo.

Os debates do segundo turno foram de alto nível, debates de ideias inteligentes e interessantes sobre vários pontos cruciais para o Brasil. Bem acabo de votar, antes de sair, minha mulher convidou para irmos votar na seção dela e prontamente aceitei. O sistema de votação possibilita que o voto seja realizado em qualquer seção, há apenas a sugestão da mesma, nosso sistema eleitoral é referência a mais de século.

Após um domingo agradável em família, às 17 horas a votação é encerrada. Exatamente às 18 horas, para minha alegria meus candidatos se elegem. Nos seus primeiros discursos, convidam os candidatos derrotados para participarem do governo, com suas ideias e ambos aceitam o desafio.

Bem, você acha que isso é um filme de ficção? Ou um sonho muito distante? Eu não! Eu acredito no meu País, o Brasil. Temos um potencial incrível, um povo trabalhador e alegre, com um vasto território e beleza naturais únicas, por que não lutar por uma transformação? Vamos sair do comodismo, parar de reclamar, buscar alternativas para o que consideramos que não está certo. Vamos viver, lutar pelo que acreditamos.

Eu não me arrependo de tentar, fazer, ter atitudes, de viver… Me arrependo sim, do que eu penso e não faço, a inércia me agonia. E você se arrepende de quê?

Frederico da Luz – 31-10-2010

Grenal dos sonhos

Domingo, 24 de outubro de 2010, estava em Porto Alegre em um dia agradável de primavera, na expectativa de assistir meu primeiro Grenal ao lado de meu irmão. Era o primeiro Grenal dele, eu já tinha alguns no currículo.

Eu e minha namorada conversávamos tranquilamente pela manhã quando surgiu o assunto, qual o motivo da impossibilidade de ver o jogo no estádio ao lado de um gremista ou colorado? Nós, gaúchos não nos consideramos ser o povo mais culto e educado do Brasil? Então eu me via argumentando os motivos que possibilitariam isso e minha namorada de imediato comentou… Tu quer ver briga? Quer que as torcidas se matem?

Minha real intenção não era essa. Pensei… quando vou poder ver um Grenal com ela ao lado, ela é colorada e privá-la de comemorar um gol, seria justo? Hoje em dia só se um de nós assistir ao Grenal infiltrado em uma das torcidas, pois outra forma não há.

Bem, segui refletindo e pensando, se por “azar” ou “sorte” depende do ponto de vista de cada um, eu vier a ter um filho colorado, nunca vou ter esse prazer, não que eu torça por isso, mas não temos o poder de determinar certas coisas. Meu pai é colorado e felizmente deixou aberta a possibilidade de me tornar gremista para minha sorte.

Voltando ao começo, será que nunca vou poder ir a um Grenal e poder desfrutar deste clássico em família? Lá em casa somos 3 gremistas e 2 colorados, mas grande parte de minha família (avós, tios e primos) é colorada. Será que não somos educados suficientes para poder conviver socialmente em um estádio de futebol?

A dura realidade

Combinei de encontrar com meu irmão, assim que ele chegasse em Porto Alegre. Lá pelas 16:00 estávamos nos preparando pra entrar no Olímpico e encontrei um grande amigo que já fazia algum que não o via, como o futebol oportuniza coisas maravilhosas, além da emoção do jogo em si.

Antes disso, fui surpreendido pela chegada da torcida do Inter ao estádio, nunca tinha presenciado a forma como os torcedores adversários são conduzidos. Desculpem o termo, mas parece um rebanho, sendo tocado pela polícia. No dia era a torcida do Inter, mas se o Grenal fosse no Beira Rio seria a do tricolor, e mais uma vez pensei a que ponto chegamos… não somos capazes de respeitar a opinião e manifestação pessoal de alguém por um clube de futebol? A sociedade atual evolui na velocidade da luz em vários aspectos e em outros volta à idade da pedra. Bem, vamos ao jogo.

Entramos tranquilamente, bem nem tão tranquilo assim, antes de entrar no estádio me senti entrando em um presídio (na verdade, nunca entrei em um, mas imagino como deve ser), levava uma mochila com algumas coisas que acabara de comprar. O policial pediu para que abrisse a mochila e mostrasse o que havia dentro, prontamente atendi sua solicitação, que apesar de todo desconforto da situação foi muito educado. Ele verificou que não portava nada demais, e após uma revista pessoal liberou minha entrada.

Já fazia algum tempo que não via meu irmão e estávamos conversando já devidamente acomodados quando começa uma briga na torcida do Inter. Notei que ele ficou assustado, eu como infelizmente esse fato não é novidade, não dei muita importância. A polícia teve que intervir e a confusão estava formada. Fiquei ao mesmo tempo pensativo e triste, no começo do dia filosofava com a possibilidade de integração das torcidas e me deparava com o fato que nem as torcidas dos próprios times se entendem, falo assim porque sei que na torcida do grêmio isso ocorre também.

Tenho uma opinião pessoal sobre isso. Avalio que os “brigões” são pessoas frustradas e mal resolvidas, e externam todas suas frustrações em um estádio de futebol, pois para elas o clube é sua vida. O grêmio para mim é muito importante, mas não é minha vida, e sim faz parte dela.

Voltando ao jogo… o grenal foi o melhor grenal que já assisti, foi extremamente disputado e muito técnico, este em especial tinha um fato marcante, era o último clássico de Simon, que apesar de todas contestações que sofre é inegável sua qualidade.

Após uns 10 minutos de domínio do Inter o Grêmio tomou conta do jogo e marcou seu gol, poderia ter matado o jogo e não o fez, e grenal é grenal. O inter empatou, após o pênalti que deixou o grêmio com um jogador a menos. Mesmo assim o Imortal fez mais um, e o Inter buscou o resultado mais uma vez.

Fim de jogo, a nação tricolor sai do jogo com um gostinho de derrota, mas o resultado não freia a arrancada firme do Imortal rumo ao título na minha avaliação (não estou louco, eu acredito). E a torcida colorada comemora o resultado como se fosse uma vitória e segue sua preparação para o mundial.

Eu, após esse grande jogo e minhas reflexões estou aqui escrevendo esse texto, pensando… será que quando eu tiver meus netos, independentemente se sua escolha clubística vou poder acompanhá-los e curtir um Grenal ao lado deles? Ou isso só será um sonho…

Frederico da Luz – 25-10-2010