Mais de uma vez já li e escutei frases como “só é triste quem quer” ou “as pessoas escolhem se fragilizar”. Admito sentir inveja de pessoas que só são tristes com hora marcada, que escolhem a alegria ao invés da tristeza como quem escolhe beber água a refrigerante, sair a ficar em casa. E não falo aqui daquela tristeza momentânea, que às vezes deixamos entrar simplesmente para manter nosso equilíbrio, e que não exige de nós muito mais do que algumas lágrimas ou um colo de mãe para ir embora. Me refiro àquela tristeza descompensada, que surge geralmente quando não estamos preparados para recebê-la, e que dói, dilacera por dentro, sem folga, todos os dias.
Ninguém escolhe perder pai, mãe, esposo (a), irmãos, amigos, e só quem teve alguma(s) dessas pessoas arrancadas de sua vida sabe o quanto dói perder, ao menos aqui na terra, uma parte de si mesmo. Ninguém, em plenas condições, opta pela miséria, pelo abandono, e devo admitir que considero demonstração pura de ignorância julgar pessoas que vivem em tais condições como portadoras de pleno controle sobre a sua dor e o destino dela.
É claro que, independentemente das consequências que elas venham a trazer, somos nós os responsáveis por nossas atitudes. Tomamos decisões erradas, fazemos mal aos outros e a nós mesmos. Agora a tristeza, verdadeira e gratuita, esta ninguém escolhe.
Felizes aqueles que reconhecem isso, que buscam compreender a tristeza do outro ou que ajudam o outro a compreender sua própria tristeza. Fazem isso, pois talvez já a tenham experimentado em algum momento de sua vida e entendem que, independente de quem se aposse dela, não o faz voluntariamente, e que é nessas horas que a empatia, a compaixão e, porque não o amor, devem se mostrar incansáveis.
Patrícia Pinheiro