
Esta semana, uma revista de circulação nacional trouxe como reportagem principal, a análise da vida de pessoas que foram condenadas pela prática de homicídios que chocaram o país, em razão das circunstâncias brutais em que foram cometidos.
Em todos os casos relatados, consta que os indivíduos cumpriram integralmente a reprimenda que lhes fora imposta, considerando-se os benefícios obtidos, de modo que atualmente consideram-se “quitados” com a justiça.
“Paga a dívida”, a reportagem retrata que todos buscaram seguir o rumo, e, após ingressarem no regime semi-aberto, dedicaram-se a caminhos alternativos para reconstruir a vida. Alguns ingressaram na faculdade, formaram-se e seguiram uma profissão; outros converteram-se a uma vida religiosa; alguns com mais facilidades financeiras, outros nem tanto. Mas, em todos os casos, nenhum dos condenados quites com a justiça, voltou a delinquir.
Ao contrário, embora tenham passado mais de 5 anos na prisão, por força do regime fechado, convivendo com vasta gama de marginais, não se contaminaram na universidade da delinquência.
Alguns arrependidos do passado, utilizam-se de recursos para não serem reconhecidos, tais como utilizar sobrenome de casado, ou um segundo sobrenome não divulgado. Outros ouvem silentes as críticas.
Todos, creio eu, gostariam de retirar da alma o fardo que carrega. E assim, buscam, em todos os casos, o recomeçar.
Neste ponto, me ocorre uma necessária análise: é certo que as vítimas não mais retornarão, e por certo a dor das famílias que perderam um ente de forma brutal, jamais cessará. O inconformismo e a revolta poderá, sim, lhes ser uma constante, atingindo inclusive pessoas alheias; pessoas como eu e você, que embora não tenha qualquer envolvimento mais íntimos, toma as dores das famílias das vítimas, e ficam perplexos com a narrativa dos detalhes da cena do crime.
Mas, e quanto aos acusados que cumpriram suas penas, tem estes o direito de recomeçar?
Se a lei dos homens estabeleceu uma reprimenda, de acordo com a estrutura da sociedade, e se o condenado a cumpriu integralmente, qual caminho agora deverá seguir? Pedir para que fique preso perpetuamente? Suicidar-se? Trancafinar-se dentro de casa? Continuar na criminalidade? Ou Recomeçar?
Muitos indivíduos cometem crimes isolados, movidos por um ímpeto de raiva ou de futilidade qualquer, que, após passar o sentimento, podem se arrepender profundamente. Em alguns casos, porém, mesmo cumprida a pena, será impossível retirar da alma toda a dor moral.
E se o indivíduo tenta superar o erro, ressocializando-se, que direito temos de “cutucar” ferida adormecida, para voltar trazer a tona, aquilo que bem queria esquecer? Não seria a dor moral que carregam o suficiente para “puni-los” perpetuamente?
E mesmo carregando o peso de uma culpa, ainda que por um ato insano, não poderá mais a pessoa sorrir? Trabalhar? Deverá sempre esboçar uma figura triste e vazia, com uma placa de arrependimento, para que as pessoas não pensem que não está nem aí?
O que cada um de nós espera, após cometer um erro irremediável: tolerância ou condenação perpétua? Um novo caminho ou o eterno inconformismo?
Penso que em uma sociedade onde a delinquência é quase um hobby, em que muitos entram pela simples emoção de transgredir, e a após, formam-se nas “universidades do crime”, o indivíduo que age em prol de sua ressocialização deve ser visto com outros olhos.
Errar é uma condição inata ao ser humano, tão certa quanto a morte. Desvendar o “porquê” dos erros, pode ser uma missão impossível. Porém, buscar uma solução para contornar o problema será o caminho da evolução.
Longe de ser esta uma manifestação em prol de criminosos – que fique isto bem claro – a proposta é despertar a tolerância e incentivo com aqueles que ousam enfrentar todas as marcas de um crime cometido e se permitiram “recomeçar”.
Afinal, se as pessoas cumpriram a pena que a sociedade lhe impôs, e não voltaram a transgredir, e em especial, buscaram um recomeço longe da delinquência, será necessário reviver por todo o sempre os erros do passado?
Quem nunca errou, que atire a primeira pedra.
Josi Sonagli
O texto é da Josi Sonagli, obrigado pro compartilhar.
Nossa…. fiquei impressionada com os comentários e argumentações descritas…
Realmente acredito que se as pessoas conseguissem ver por ambos os lados, seria mais fácil de entender as situações.
Parabéns… muito bom.. e parabéns a vc Fred.. por essa oportunidade..