O roteiro era o seguinte: El Calafate, El Chalten e Ushuaia tínhamos uma semana para conhecer o máximo que pudéssemos. Tive como companheiro de viagem um colega de trabalho e amigo Leandro Luis Daros, um cara excêntrico, de coração bom, muito pão duro, cada um com seus problemas, temos que saber aceitar e conviver com as diferenças.
Voltando a viagem. Chegamos em El Calafate após às 3 da tarde, realizamos o check-in no Hostel e fomos almoçar, conhecer a cidade. Programamos tudo o que iríamos fazer de terça até quinta. Segunda, somente fizemos o reconhecimento do território, El Calafate é uma cidade pequena e aconchegante, lembra Gramado e Canela no RS. É a cidade da atual presidente da Argentina Christina Kirchner, tem um povo muito educado e acolhedor.
Ushuaia – Glaciar Perito Moreno
A paisagem ao redor da cidade impressionava, altas montanhas e ao fundo uma parte da Cordilheira dos Andes. Na terça começamos a cumprir nosso cronograma. Neste dia iríamos conhecer o Glaciar Perito Moreno, um aglomerado de gelo que se forma devido à caída da neve das montanhas que o rodeiam. Algo impressionante são colunas de gelos que chegam a ter 100 metros de altura.
Entramos no Parque dos Glaciares onde ele se encontra, realizamos uma pequena trilha, nesta não resisti e entrei na água para pegar um Iceberg (na verdade, um pequeno bloco de gelo que estava próximo à margem… a água estava extremamente gelada).
Após a pequena trilha, começamos a caminhar pelas passarelas, estas possibilitam uma visão mais próxima do Glaciar. Este é um dos poucos no mundo que seu tamanho tem se mantido constante ao longo dos anos, o normal é que os Glaciares em geral diminuam devido ao aquecimento global (tem gente que não acredita nisso ainda).
Presenciamos o desprendimiento de um enorme pedaço de gelo, o barulho impressiona, parece uma bomba, conseguimos filmar, aqui é um evento corriqueiro, mas para nós totalmente novo. Depois das passarelas, realizamos um passeio de barco, chegamos bem próximos ao outro lado do Glaciar, o frio era intenso, a cor do gelo é algo muito diferente, são várias tonalidades, sendo que quanto mais azul, mais compacto. Neste dia, voltamos para o Hostel e saímos para apreciar uma pizza e tomar uma Quilmes.
El Chalten – Glaciar Viedma
Na quarta fomos para El Chalten, um pequeno povoado com apenas 25 anos, após conversas com a população descobrimos que foi criado a fim de prevenir uma possível ocupação Chilena. Acordamos cedo e fomos pegar a embarcação que nos levaria ao Glaciar Viedma, onde realizaríamos um Trekking (caminhada sobre o gelo). A Embarcação demorou uma hora para chegar ao Glaciar, apreciamos um pouco a paisagem e o grupo desceu para começar a aventura.
Caminhamos primeiro sobre algumas rochas, não sei qual sua composição, sua tonalidade era marrom meio avermelhado. Depois de uns 15 minutos paramos para colocar os grampones um calçado com grampos, para caminhar na neve. As guias eram duas hermanas explicaram que era obrigatório o uso de óculos e luvas. O Leandro querendo mostrar-se prestativo começou a calçar os grampones recebeu a primeira de muitas repreensões das guias, que ao final, uma demonstrou uma admiração especial por ele.
Com todo mundo pronto e preparado, começamos a caminhada pelo gelo, antes ficou definido que iríamos sempre em fila indiana, pisando sempre com força para evitar qualquer risco. Caminhamos durante 2 horas, as paisagens são indescritíveis (desculpem a redundância, mas não há como descrever em palavras), a sensação de integração com a natureza é absurda, a beleza do lugar, do gelo, tudo se encaixa.
Pegamos a embarcação de volta, e nos dirigimos ao Hostel que iríamos ficar em El Chalten. No outro dia o que nos aguardava era o temido sandero (trilha) do Fitz Roy.
Sandero – Fitz Roy
Acordamos cedo, eram 7 horas quando saímos do Hostel em direção ao início do sandero. A ida levaria umas 5 horas, são 13 KM de subidas e descidas, um trilha classificada como difícil.
Começava com uma subida íngreme de 30 minutos, após mais 2 horas de solo plano, chegamos onde se separa o guri dos homens (como diria um autêntico gaúcho). Uma subida extremamente íngreme que exige muito esforço físico, levamos 1 hora e meia para superá-la, mas valeu cada suor de esforço. Quando alcançamos o topo, conseguimos avistar a base do Fitz Roy, uma montanha de granito de 3400 metros de altura, não há palavras para descrever aquele momento é algo único que não pode ser descrito, deve ser vivenciado, sentido. Na base da montanha, há um lago que nesta época do ano esta totalmente congelado, não resisti e fui caminhar sobre ele, não antes sem verificar se estava realmente totalmente congelado. Uma sensação única.
Após contemplarmos a paisagem e comermos nosso almoço (um sanduiche com pão duro), começamos a descida, já era meio dia passado e começava a ventar forte. Sabíamos que o caminho de volta não era curto. Quando chegamos à base do morro decidimos fazer uma parada, constatamos que estávamos encharcados de suor, meia, calça, casado, tudo estava úmido. Decidimos descansar um pouco e aproveitamos para dar uma boa “lagartiada” (banho de sol). Com as roupas secas, recomeçamos a volta. Chegamos no Hostel passado das 16, nosso ônibus que nos levaria de volta a El Calafate sairia às 18, só que um banho era mais que necessário.
Infelizmente, o Hostel estava lotado e não conseguiríamos tomar um banho, pelo menos não ali, então fomos a outro Hostel. Quase sofri um grave acidente, estava eu tomando meu banho merecido, após mais de 8 horas de trilha, quando após terminar o mesmo e abrir a porta para sair, escorreguei… Fiquei com a porta em uma mão, e a outra segurando a base que segura uma cortina usada para não molhar o banheiro, me bati às costas no lugar usado para abrir o chuveiro, me via, equilibrando a porta, com ambas as mãos ocupadas e fazendo malabarismo para não cair. Devo ter ficado assim durante alguns segundos, pensando como sair daquela inusitada situação.
Suportei o difícil sandero do Fitz Roy e iria me lesionar tomando um banho? Não iria suportar tamanha humilhação, então recuperei o equilíbrio, coloquei a porta no lugar com dificuldade e me livrei da inusitada e perigosa situação. Relatei o fato ao Leandro que não se furtou de dar seu comentário.
Retornamos para El Calafate, a viagem pra mim não existiu, entrei no ônibus e apaguei, estava realmente muito cansado.
Ushuaia – A Terra de fogo – O Fim do Mundo
Na sexta iríamos pegar o voo que nos levaria a Ushuaia, a chamada Terra do Fogo, ou o Fim do Mundo. Nosso voo atrasou 4 horas, aproveitei para recuperar as energias, dei uma cestiada básica no salão de embarque do aeroporto.
Já em Ushuaia chegamos ao Hostel, fomos conhecer a cidade e ver a programação do outro dia. Neste dia batemos uma bolinha com lós Hermanos sendo que após uma cobrança de falta perfeita realizada por mim, um não se conteve e me aplaudiu, o Leandro é testemunha do fato.
Sábado acordamos e nos dirigimos até o porto, pegamos um catamara que nos levaria até a Ilha dos Pinguins. Navegamos pelo Canal Beagle, este tem acesso tanto ao Oceano Pacífico como Atlântico, de um lado temos a Argentina do outro o Chile. Paramos em pequenas ilhas, onde avistamos diversos animais, como: pinguins, leões marinhos e diversas aves.
Chegamos ao destino final, a Ilha dos Pinguins, só que esqueceram de avisá-los que iríamos visitá-los, para nossa surpresa avistamos no máximo uns 20 pinguins, a guia explicou que nesta época eles estão chegando, a maior concentração se dá em dezembro e janeiro, eles usam a ilha como território de reprodução.
Após retornarmos a cidade, resolvemos ir ao topo de uma montanha, onde há um teleférico que possibilita uma vista muito bonita. No entanto, o mesmo estava parado para manutenção. Eu decidi não subir até o mirante, estava com meu calcanhar acabado devido ao Sandero do Fitz Roy. O Leandro encarou mais uma subida e após 1 hora chegou a uma bela vista da cidade, como pude ver através dos vídeos e fotos tirados por ele.
Durante esse tempo fiz amizade com um perro (cachorro), muito inteligente por sinal, no entanto, não consegui que ele me devolvesse o pedaço de pau que eu atirava para ele buscar. No local, alugavam bicicletas para quem quisesse, resolvi pegar uma e descer a montanha de bike, decisão mais que acertada. Adrenalina total, várias curvas e para melhorar, eu estava filmando tudo (na filmagem parece sem graça alguma, mas o momento foi show).
Decidi conhecer o Museu do presídio, não tinha entrado em nenhum museu ainda, resolvi encarar este. Os presos de Buenos Aires eram mandados para cá, o local era grande e bem conservado, sentia-se o clima pesado, mesmo ele estando totalmente desativado, já há algum tempo.
Para finalizar fomos apreciar mais uma ótima parilla que pelos meus cálculos era a quarta da viagem. Agora, domingo dia 7 de novembro de 2010, estou aqui no voo de volta escrevendo um pouco dessa viagem INDESCRITÍVEL…
Frederico da Luz – 07-11-2010